quinta-feira, 15 de março de 2007

ODILIO BALBINOTTI

O futuro ministro da Agricultura, deputado Odílio Balbinotti (PMDB-PR), é um dos reis da soja no Mato Grosso. Ele deve assumir nesta sexta-feira o cargo, conforme anúncio feito pelo presidente do PMDB, Michel Temer. À Justiça Eleitoral, ele declarou catorze fazendas por R$ 68,4 milhões. Todas ficam na região de Rondonópolis, onde ele é um dos maiores produtores de semente de soja do País.

Balbinotti é dono de uma fortuna de R$ 123 milhões. Na Câmara, ele só possui menos bens que o deputado Camilo Cola (PMDB-ES), o dono da Viação Itapemirim. As catorze fazendas declaradas pelo deputado ocupam um total de 12.500 hectares. Confira a lista:

- fazenda Adriana, em Alto Garças – 1.952 hectares - R$ 20 milhões
- fazendas Seriema I e II, Alto Garças – 1.837 hectares - R$ 12,4 milhões
- fazenda Cachoeira Vermelha, em Guiratinga – 994 hectares - R$ 8 milhões
- fazenda Morro das Araras, Alto Garças – 940 hectares - R$ 7 milhões
- fazenda Pádua, Alto Garças – 2.486 hectares – R$ 5,5 milhões
- fazenda Cristo Rei, Alto Garças - 956 hectares - R$ 4,3 milhões
- fazenda Jurigue, em Pedra Preta – 1.243 hectares – R$ 3,1 milhões
- fazenda Lagoa Azul, Alto Garças – 313 hectares – R$ 3 milhões
- fazenda Bambu, Alto Garças – 212 hectares – R$ 2,1 milhões
- fazenda Adriana II, Alto Garças – 146 hectares – R$ 1,3 milhão
- fazenda Jurigue II, Pedra Preta - 398 hectares - R$ 1 milhão
- fazenda Reserva, Alto Garças - 1.000 hectares - R$ 450 mil
- fazenda Jurigue III, Pedra Preta - 79 hectares - R$ 200 mil




Reportagens diversas sobre a Sementes Adriana, administrada por Odilio Balbinotti Filho, apontam números diversos para a área de cultivo: entre 26 mil hectares e 29 mil hectares.

quarta-feira, 14 de março de 2007

LUIZ ALEXANDRE GARCIA

A Algar é a maior produtora de soja e milho de Minas Gerais, informa a "Dinheiro Rural" do mês de fevereiro. "Mas ainda assim o plantio nos 10,5 mil hectares representa apenas 2% da necessidade da esmagadora de soja de Uberlândia - 600 mil toneladas por ano.

A reportagem foca o CEO Luiz Alexandre Garcia, neto do fundador da empresa, Alexandrino Garcia. O agronegócio fatura 23% (R$ 350 milhões) do total anual do grupo, R$ 1,5 bilhão. "Na pecuária, o grupo tem 20 mil cabeças de gado de corte em Mato Grosso", escreve a repórter Tatiana Resende.

A empresa doou R$ 440 mil para 33 candidatos (22 de Minas), nas eleições de 2006. O principal agraciado foi Gilmar Machado (PT-MG), com R$ 70 mil. Em seguida vêm Luiz Alberto Carneiro (PSDB-MG) e Paulo Ferolla da Silva (PFL-MG), com R$ 35 mil cada. O governador reeleito Aécio Neves recebeu R$ 30 mil da Algar em sua campanha.

terça-feira, 13 de março de 2007

ELEUZA CAVALCANTE FARIAS

Assim como o irmão Augusto, a irmã de PC Farias - o tesoureiro da Era Collor - também foi presa temporariamente em 2003, sob a acusação de manter trabalho escravo na Fazenda Santa Ana, no Pará. A médica Eleuza Cavalcante Farias seria a acionista principal da empresa.

A Santa Ana Agropecuária e Industrial continua na lista suja do trabalho escravo, elaborada pelo Ministério do Trabalho e Emprego e atualizada em fevereiro de 2007. Farias (leia abaixo) deve ser o mais novo deputado federal, com a morte do colega Gerônimo da Adefal.

segunda-feira, 12 de março de 2007

AUGUSTO FARIAS

Mais conhecido por ser irmão de PC Farias, Augusto Farias (PTB-AL) é também um latifundiário. Chegou a ser preso, em 2003, pela acusação de manter trabalho escravo em fazenda no Pará. Ele volta à Câmara após a morte do deputado Gerônimo da Adefal (PFL). Com uma ironia: Gerônimo, portador de deficiência, fazia parte da Comissão de Direitos Humanos e Minorias - portanto há grandes chances de o posto ser herdado por Farias.

A fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) constatou a prática de trabalho escravo na fazenda Santa Ana, em Cumaru do Norte (PA). As terras são administradas pela empresa Santa Ana Agropecuária e Industrial, da irmã de Farias, Eleuza. Na última "lista suja" do trabalho escravo, em fevereiro, a empresa continuava na lista de empregadores acusados da prática trabalhista medieval.

Na declaração de bens de Farias não consta a Santa Ana. Apenas a fazenda Rio Fresco, também em Cumaru do Norte, com 4.356 hectares. A fazenda tem o mesmo nome da segunda fazenda onde no Brasil foram encontrados mais trabalhadores escravos, exatamente na mesma blitz do MTE, em 2003. Essa fazenda Rio Fresco, que não está mais na "lista suja", pertenceria a Antonio Lucena Barros.

Na fazenda dos Farias foram localizados 141 trabalhadores em condições similares a de escravos, segundo a procuradora federal Eliane Menezes de Faria, na época subprocuradora Geral da República - na atual "lista suja", constam 99. Ela contou na ocasião, emocionada, que foram identificados 40 casos de malária, 26 trabalhadores com dengue, muitos com infecção nos rins, vários deles com contusões e até um caso de olho vazado.

“Todos vivendo em condições precárias de alojamento, alimentando-se com comida estragada, sem água potável e presos, impedidos de sair do local de trabalho”, relatou. ”Em 15 anos de vivência na área jurídica, nunca vi homens livres serem tratados com tamanha crueldade. O custo mensal de cada detento em Brasília é de R$ 783,00. Mas estranhamente o País ainda não conseguiu assegurar condições para o pagamento de um salário mínimo digno ao trabalhador. E seguimos vendo homens livres viverem em condições piores do que os detentos, em condições mais precárias até que aqueles que vivem nas piores masmorras”.

Farias recebeu em sua campanha doações de vários usineiros alagoanos.

sexta-feira, 9 de março de 2007

LUIZ e ROGÉRIO SALLES

No Mato Grosso também há endividados, segundo a "Dinheiro Rural" sobre o próspero Eraí Scheffer (ver os dois verbetes abaixo). A revista informa que a dupla Luiz e Rogério Salles tinha plantado 10 mil hectares de soja, milho e algodão na safra passada, em Rondonópolis (MT). Mas agora, "para quem sentiu o baque", ou "o impacto da crise", estão cultivando uma área de 7 mil hectares, agora sem algodão.

Não está na reportagem que Rogério Salles foi governador do Estado do Mato Grosso - era o vice de Dante de Oliveira (PSDB) e assumiu o cargo quando este disputou o Senado, em 2002. Em 2006, Salles disputou o Senado pelo PSDB e teve 266.957 votos. Sua campanha custou R$ 502 mil - entre os quais R$ 93 mil de integrantes da família Maggi Scheffer. Ele recebeu ainda mais de R$ 12 mil do deputado paranaense Odílio Balbinotti (PMDB), um dos maiores produtores em Rondonópolis.

Em sua declaração de bens à
Justiça Eleitoral consta apenas a posse de 203 hectares, mais 26 terrenos em Rondonópolis sem tamanho definido, fora os lotes urbanos. Rogério Salles declarou a posse de R$ 307 mil em bens.

quinta-feira, 8 de março de 2007

OTAVIANO PIVETTA

Na mesma reportagem da "Dinheiro Rural" sobre Eraí Scheffer (veja abaixo), a repórter Fabiane Stefano diz que a concentração de terras no campo é "cada vez mais iminente". "Os grandes produtores podem ficar ainda maiores, assumindo áreas de agricultores menos eficientes", escreve.

E cita então o caso do gaúcho Otaviano Pivetta, dono do grupo Vanguarda, de Nova Mutum, no Mato Grosso. Ele arrendou outras duas fazendas nesta safra, investindo em soja, milho, algodão, suínos e bovinos. O faturamento em 2007 deve ser de US$ 1,4 mil por hectare.

Neste trecho sobre a maximização dos ativos das fazendas ficamos sabendo do tamanho da terra: "Isso significa obter duas safras em cerca de 80% da área de 80 mil hectares em que o grupo cultiva."


Não está na reportagem, mas Pivetta é também deputado estadual no Mato Grosso, pelo PDT. Sua declaração de bens mostra que ele possui uma fortuna de R$ 82,2 milhões. Fosse deputado federal, seria o terceiro mais rico do País. E olha que ele cursou somente o ensino fundamental.

A declaração entregue à Justiça Eleitoral detalha também cada fazenda que ele possui, como pessoa física. Somando tudo, são 42.900 hectares. Ele faz também parte da "bancada da comunicação" no Mato Grosso, como concessionário da Rádio Regional Centro Norte Ltda.

Ex-secretário do Desenvolvimento Rurai do governo Blairo Maggi, Pivetta investiu do próprio bolso R$ 160 mil na campanha para a Assembléia. Recebeu ainda doações da Nortox (R$ 150 mil), Atiaia Energia (R$ 50 mil) e Sadia (R$ 30 mil), entre outros, numa campanha que custou R$ 496,7 mil.

quarta-feira, 7 de março de 2007

ERAÍ SCHEFFER

Primo do governador do Mato Grosso, Eraí Maggi Scheffer ganhou a capa da revista "Dinheiro Rural" do mês de fevereiro. Aparece de mãos abertas e sorridente, em meio à uma plantação de soja. A revista descreve sua história à frente do grupo Bom Futuro como "um retrato da recuperação do campo".

Com dois irmãos (Elusmar e Fernando) e um cunhado (José Maria Bortoli), Scheffer administra 225 mil hectares de terra. Segundo a reportagem de Fabiane Stefano, ele é um dos maiores produtores de soja do Brasil e disputa a primeira posição no ranking dos grãos com seu primo, Blairo Maggi. "Começamos juntos nos anos 80", diz ele à repórter. "Éramos dois pés-rapados".

Seu faturamento na safra deverá ser de mais de US$ 200 milhões. Apesar disso, ele diz que, "sem dúvida", os produtores estão "enfrentando muitas dificuldades". E identifica ainda mais oportunidades no setor sucroalcooleiro. Em declarações a publicações do setor ele disse nos últimos anos frases do tipo "a crise está batendo à porta" ou "o setor está na UTI".

Em reportagem de junho de 2002, a revista "Dinheiro" (de onde surgiu a Rural) chamava Scheffer de "novo rei da soja" e atribuía a ele a posse de 85 mil hectares de terra. A mesma reportagem indica que ele não era tão "pé-rapado" assim: conta que ele nasceu num sítio de 27 alqueires - ou seja, 65 hectares, em São Miguel do Iguaçu (PR). Foi para o Mato Grosso em busca de "terras mais baratas".

Scheffer já foi candidato à suplência do Senado em chapa encabeçada pelo ex-governador, já falecido, Dante de Oliveira (PSDB). Nas eleições de 2006 ele doou apenas R$ 8.280,00 para candidatos - R$ 5.250 para o primo Blairo e R$ 3.030 para Jesur José Cassol (ambos do PPS, na época). Doou menos que Elusmar e mais que Fernando, conforme informações do Tribunal Superior Eleitoral.

Suas fazendas estavam, em 2002, espalhadas por municípios como Rondonópolis, Sapeza, Campo de Júlio, Diamantino, Jaciara e Campo Verde.

segunda-feira, 5 de março de 2007

MANUEL MEIRELLES DE QUEIROZ

Mais uma vez em “Fronteiras de Sangue”, livro de 1992 do espanhol Javier Moro sobre a saga de Chico Mendes, desta vez numa nota de rodapé:

“A título de comparação, Manuel Meirelles de Queiroz, o maior proprietário de terras do Acre, possui uma propriedade de 975.000 hectares (uma extensão do tamanho do principado de Astúrias)”.

Localizei novamente o nome do fazendeiro, ainda que com um “l” só em Meireles, em reportagem da Agência Câmara sobre um depoimento na CPI da Biopirataria, em Brasília, em 2005. Manuel e seu irmão Raimundo Meireles de Queiroz seriam os responsáveis pela tentativa de venda exatamente de uma terra de.... 975.000 hectares... no Acre.

Só que essas não poderiam ser vendidas, depôs o então presidente do Instituto de Terras do Acre. E por quê?

”A venda seria ilegal pelo fato de o terreno concentrar minérios, fósseis e a maior reserva de mogno da Amazônia”, explica o texto.

"A terra anunciada, equivalente a seis vezes o tamanho da cidade de São Paulo, ou 300 vezes a da Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, inclui duas reservas indígenas e o Parque Estadual do Chandless, área de preservação ambiental permanente em posse da União. No anúncio, o vendedor informava até os supostos atrativos da região: ouro e até fósseis de animais desconhecidos.”

domingo, 4 de março de 2007

JUNQUEIRA VILELA

Curiosamente, um fazendeiro com o nome Junqueira Vilela (no livro de Javier Moro sobre Chico Mendes uma empresa com esse nome aparece como exploradora de trabalho escravo na região de Altamira) ganhou o notíciário, em 2005, como um dos supostos invasores do Parque Estadual Cristalino, no Mato Grosso.

Segundo a reportagem do jornal "
O Diário", de Alta Floresta, Antonio José Junqueira Vilela se apresentou como proprietário da fazenda Nhandu, com área declarada por ele de 11.000 hectares (o total do parque é de 203.000 hectares), no município de Novo Mundo.

Criador de 29 mil cabeças de gado, ele foi notificado e multado por fiscais da secretaria de Meio Ambiente. O valor da multa foi de R$ 60 milhões. Segundo o jornal "
A Gazeta", de Cuiabá, ele teria desmatado 50.000 hectares do parque.

ALMIR LANDO

O mesmo livro do espanhol Javier Moro sobre Chico Mendes (ver abaixo) traz um diálogo entre o sertanista Sidney Possuelo e Pernambuco, um dublê de trabalhador e pistoleiro que fugira de uma fazenda onde era mantido como escravo:

- Como chamava a empresa que os transportou, a que os contratou? perguntou Possuelo, que tinha tirado do bolso da camisa uma cadernetinha e tomava notas.
- A empresa se chama Junqueira Vilela Empreendimentos Pecuários. Pertence aos deputados federais e um estadual chamado Almir Lando. Isto eu sei porque meu pai tirou informações pensando que fosse um bom lugar para mim. O deputado Almir Lando foi várias vezes lá na fazenda quando eu estava lá e cheguei até a falar com ele...
- O que você lhe disse?
- Que não agüentávamos mais. Me queixei dos preços e da falta de liberdade.
- E ele fez alguma coisa?
- Nada. A única coisa que consegui foi receber a maior surra de um capataz, coronhadas... Então jurei que não apanharia nunca mais e decidi fugir.

O autor não especifica o ano, mas se trata da época do regime militar. Não há informação sobre alguma relação entre esse deputado Almir Lando, supostamente pelo Pará, e o atual senador por Rondônia Amir Lando. Não há também informação sobre o tamanho dessa terra onde havia exploração de trabalho escravo.

GASTÃO MOTA

Chico Mendes tinha cerca de 25 anos em 1969, quando teve de mudar da colocação onde trabalhava e vivia com sua família, em Xapuri, no Acre. O seringal pertencente a Gastão Mota tinha 20.000 hectares, segundo o historiador espanhol Javier Moro, no livro "Fronteiras de Sangue" (Scritta Editorial, 1993).

Segue um trecho do livro sobre o lafitundiário:

"Um dia, Chico topou com pistoleiros fortemente armados e pensou que havia chegado sua hora. Quis sair correndo, mas seu pai o impediu. Era melhor encarar o problema ali mesmo do que perder-se na floresta, à mercê dos pistoleiros do seringalista. Mas dessa vez os capatazes não estavam à procura de Chico Mendes, mas escoltavam o dono do seringal, um homem chamado Gastão Mota, cuja reputação de autoritário não era menor que a de seus métodos violentos. Em sua propriedade, um seringal de 20.000 hectares, chamado Filipinas, Francisco e seu filho Zuza haviam encontrado o cadáver do desconhecido. Gastão Mota estava percorrendo suas terras. Fazia campanha eleitoral para a Arena, um partido de extrema direita que apoiava o regime militar e concorria às eleições municipais. Era a primeira vez que Chico via de perto seu patrão e aquilo o deixou inquieto. Talvez porque a imagem daquele homem gordo, com cara de bonachão, não correspondesse ao que se sabia dele. Ou talvez fosse um pressentimento de que esse amante do churrasco e dos charutos acabaria conspirando contra os seringueiros".

Mais à frente o pai de Chico, Francisco Mendes, se recusa a votar na Arena e passa a ser descrito como "um comunista, um homem violento disposto a levar os seringueiros ao descalabro". Com medo de desaparecerem na selva, pai e filho decidem abandonar o seringal.